quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Bienal, 13 de novembro de 2013

Queridas e queridos,
aqui está todo o material do que apresentei-apresentarei na Bienal.
Para você, que não pode ir ou que quer ler o dito-cantado-declamado.
O início é lá no final, esta forma do Blog é ótima para poetas
que nem sempre gostam de seguir a ordem... Escolha sua forma!
Abraços espalhados!
Claudina

Indo...

Deixar um lugar que se ama
Não é algo que ninguém
Faça em paz.
Uns saem às lágrimas
Sutis ou soluçantes
Outros, raivosos e reclamantes
Saem falando da feiúra das estradas.
Outros ainda
Saem desconversando
Sem perceber que estão à fugir
Deste incomodo “sentir”.
O aqui e agora da despedida
É experiência difícil de ser vivida.
Um aqui de falta.
Um agora de fim.
A alma fica vazia e fria
Sofrendo o tom grave do “não” .
Aguardando
Entre dúvida e esperança
O quente frescor

Do próximo “sim”...

Canção QUATRO

A terra do chão
Lavo meu corpo                      
Com a terra do chão ...
A terra do chão
Prepara o corpo
Pra terra do chão

E a terra do chão
Tão leve se põe a voar
E a terra do chão
Tão forte
Sempre a sustentar...

A água do céu
Brilhante cristal                         
A água do céu
Com a água do céu
Encontro o graal
Com a água do céu.

E a água do céu
Se junta com a terra do chão
E o fogo em mim
Iluminam a escuridão!!!

A terra do chão
A água do céu
O fogo em mim

Me ponho a voar...

Desculpe, minha cidade

Desculpe, minha cidade
não poderei cantar-te
se só penso em afastar-te
para  aproximar-me de mim.
Tu me tomas todos
 ouvidos,
 pensamentos,
e até os olhos nos olhos
cidade faz virar lamento...
Não aguento
 mais
teus becos,
tuas ruas...
Não porque sujas
e sim porque velhas,
por outros inventadas
por gente com quem não suei
gente de plástico
que nem gente parece
e de súbito me aparece
para dizer-me que é outro
o caminho a escolher.
Esta escolha
se chama Minha.
Escolho
colher flores
que rimam com amores
deixo pra ti
os  horrores.
A cidade me vomita
e sobre ela eu me dobro
sobro sobre ela.
Então
sopro suas cinzas
e sonho
com minha casa azul

e sua lonjura. 

Balada Ameríndia e Vandalos

BALADA AMERÍNDIA
Los cocaleros no están más libres
los mercaderes sí están más libres
contando los días que se van
Venezolanos que se fijen
y en Colombia aún piden
que la injustícia se vaya.
Quiero poder cantar
quiero poder gritar
y reconsiderar el mundo
girando en todo espacio...
Ay, mi amor, es que el mundo lo he visto tranquilo tan solo del cuarto
oyeme, el día llegó, la hora pasó y así
amaneció...
Por una América más libre, voy a cantar
por un Chile más libre, recordar
por un Brasil más libre, protestar
por una América más libre, trabajar...
(Composta com Dreck Jomes, parceiro de vida e da banda Soamez) 

Vândalos
São produtos
Do descaso
Não do acaso.
Insanos
 vestem a loucura
De todos os humanos
Que lhes jogam
Igual a pedras
Toneladas
De ignorância, negação e rechaço.
Vândalos
Devolvem à multidão
O que dela recebem:
Pedradas de ignorância
Fogo da rejeição
Destruição da matéria
Vândalos são produto do descaso,  
Não do acaso. 

O vulcão e a poesia

Esta história aconteceu
Um dia e eu sabia
Que jamais
A esqueceria.
Um amigo irmão me pegou pela mão
E me presentou ao mundo
ESTA É CLAUDINA RAMÍREZ
Ele disse.
As florestas dançaram faceiras para mim.
Os rios me encheram de elogios.
Somente um vulcão
Ousado e exibido
Cuspiu
A lava cristalizada da regra
Direto no meu olho esquerdo.
Saí correndo, cega, surda e chorando
Dizendo aos quatro ventos que o mundo inteiro
Era mau.
Fugi para a caverna
E logo recebi a visita
Do meu arrependido amigo
Que me dizia da injustiça
De eu não assentir com ele,
Com os rios e as florestas
E amplificar uma cusparada incontida
De um tempestuoso vulcão
(que nem cordilheira era, ele dissera!)
E jazer em vida escondida.

Continuei reclusa anos,
Cuidando do meu olho esquerdo
Ensinando a outros ciclopes
A se esconderem dos vulcões.
Nem a carta derramada do meu amigo,
Nem a notícia da extinção do vulcão
(numa tempestade infundada ele fora estupidamente inundado)!

Nem a lembrança da excitante dança da floresta
Nem o chamado do frescor da água
Nada
Me fazia querer voltar a ver o mundo.
Durante anos
Séculos
Milênios
Dentro de mim.
Até esta manhã
Quando acordei
Sem vontade de dar aula
E fui calma até o espelho
E abri meu olho esquerdo.
Ele estava lá,
Saudável,
Brilhante
Desejante... então, lancinante, ele me disse
CHEGA
Eu quero ver o mundo!
E quero que o mundo
Me veja!
A função do vulcão
É a erupção.
A função do fogo
A explosão.
A função do erro
A remissão.
E a função do poeta
A exposição.
Que venham as flores e as pedras!
 Meus olhos agora estão forrados
Com a camurça da aceitação
E refletem qualquer desagrado
Com  um agradecimento
À atenção.

José Ignácio Vieira e Mello é o destinatário desta menção.


Primeiras

Passei um tempo
Cavando estradas
Dentro de mim.
Não levei lanterna
Sempre há luz
Por dentro, sim.
#
Temos que andar pela vida
Na velocidade do tambor do coração
Os pistões dos automóveis
Moem nossos ossos
E enchem de rugas a alma...
Precisamos parar sempre
E sempre esperar
O furacão passar
E não inventá-lo de novo!
Temos que povoar nossas varandas
Com flores cor de calma
E todo dia voltar na contramão da produção
Voltar pro coração
Onde o menos
valia mais
E a mente
Somente
Mente, mente, mente, mente...

Chegada

Finalmente
desci do espaço
e aceitei o Ser.
Cá na terra
a flora e a fauna
me ensinam
os jogos do mundo.
Trago algumas chagas
ainda
secando ao sol.
Sinto
as pernas eretas
carregando o peso
do meu Eu Sou.
Creio
que aquela meta
escolhida na cochia
ainda é
a seta e o alvo.
Junto a mim, comigo,
compartilhando-me
estou a salvo.
SABER SER
SEM TEMER
SABER SER
SEGUIR SENDO
MESMO SEM SABER
SEGUIR SENDO
MESMO SEM SABER

EU SOU QUEM SOU
EU SÓ SOU QUEM SOU
NEM MAIS, NEM MENOS
EU SÓ SOU QUEM SOU
NEM MAIS NEM MENOS
EU SÓ SOU QUEM SOU.