quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O vulcão e a poesia

Esta história aconteceu
Um dia e eu sabia
Que jamais
A esqueceria.
Um amigo irmão me pegou pela mão
E me presentou ao mundo
ESTA É CLAUDINA RAMÍREZ
Ele disse.
As florestas dançaram faceiras para mim.
Os rios me encheram de elogios.
Somente um vulcão
Ousado e exibido
Cuspiu
A lava cristalizada da regra
Direto no meu olho esquerdo.
Saí correndo, cega, surda e chorando
Dizendo aos quatro ventos que o mundo inteiro
Era mau.
Fugi para a caverna
E logo recebi a visita
Do meu arrependido amigo
Que me dizia da injustiça
De eu não assentir com ele,
Com os rios e as florestas
E amplificar uma cusparada incontida
De um tempestuoso vulcão
(que nem cordilheira era, ele dissera!)
E jazer em vida escondida.

Continuei reclusa anos,
Cuidando do meu olho esquerdo
Ensinando a outros ciclopes
A se esconderem dos vulcões.
Nem a carta derramada do meu amigo,
Nem a notícia da extinção do vulcão
(numa tempestade infundada ele fora estupidamente inundado)!

Nem a lembrança da excitante dança da floresta
Nem o chamado do frescor da água
Nada
Me fazia querer voltar a ver o mundo.
Durante anos
Séculos
Milênios
Dentro de mim.
Até esta manhã
Quando acordei
Sem vontade de dar aula
E fui calma até o espelho
E abri meu olho esquerdo.
Ele estava lá,
Saudável,
Brilhante
Desejante... então, lancinante, ele me disse
CHEGA
Eu quero ver o mundo!
E quero que o mundo
Me veja!
A função do vulcão
É a erupção.
A função do fogo
A explosão.
A função do erro
A remissão.
E a função do poeta
A exposição.
Que venham as flores e as pedras!
 Meus olhos agora estão forrados
Com a camurça da aceitação
E refletem qualquer desagrado
Com  um agradecimento
À atenção.

José Ignácio Vieira e Mello é o destinatário desta menção.


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